segunda-feira, 21 de maio de 2012

(RE)Pensar e preciso

Continuamos a transcrever o estudo apresentado pelo Eng. Roberto Carneiro, que no estudo intitulado «2020: 20 Anos para Vencer 20 Décadas de Atraso Educativo - Síntese do Estudo» nos deixa um panorama dos desafios educacionais a enfrentar nos próximos anos... Vamos publicar, nos próximos dias, excertos do Capítulo III, Seis temas canónicos.

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4. Nós e os Outros

     «Sendo portadora dos mais representativos fundamentos humanistas e cristãos - aliás, uma referência constante aos escritos de Agostinho da Silva, designadamente na sua exegese trintária e pneumatológica - "a identidade portuguesa deu-se ao mundo sem retorno com base numa língua plástica e dúctil, alma cromática, pátria sem território, reino comunal feito de iguais, que se realiza no Bellum sine bello, História sem tempo e que se vê ultrapassada em permanência, lema do Brasão - nobre e fidalgo - cantado pelo poeta da nossa eternidade e do Quinto Império.
     Aprender diferentemente - seja na Internet, seja em comunidades reais ou virtuais - significa retomar esse diálogo nos dois mundos que se reparte a alma portuguesa: a endonomia e a heteronomia.
     A alteridade está omnipresente na formação da identidade nacional. "Sê plural como o Universo" é o sublime mandato pessoano.
     Ele contem um ideário nítido para sulcar oceanos do futuro. Acarinhar a Língua Pátria, antes de mais, dotando todos os portugueses dos conhecimentos para a comunicar com propriedade e sentido ético. Dito isto, é também imperioso que os processos educativos cultivem sem restrição o domínio de outras línguas e códigos culturais.
     Os portugueses sempre se agigantaram quando souberam encetar encontros de povos e culturas. O desenvolvimento de competências de mediação intercultural não poderá, assim, deixar de ocupar um lugar cimeiro nas estratégias educacionais.
     Uma das interpretações possíveis para o desinvestimento educativo português no século XIX foi a relativa homogeneidade da população, em contraste com o desafio da construção da unidade em sociedades plurilinguísticas e multiculturais, como era regra em quase toda a Europa. No nosso país, a aposta na escola como instrumento ideológico de conformação do Estado-nação não se revelou decisiva. Decorrido todo este tempo, surge agora como que um desafio complementar: o de fazer da escola um lugar de construção de capital social e de coesão comunitária, no respeito pela diversidade humana e na celebração da riqueza multicultural.
     A confiança para o diálogo com os outros brotará, então, da construção de projectos pessoais favorecedores de identidades fortes e abertas ao diferente.»

Carneiro, Roberto (2000), «2020: 20 Anos para Vencer 20 Décadas de Atraso Educativo - Síntese do Estudo»
 in:O Futuro da Educação em Portugal Tendências e Oportunidades - Um estudo de reflexão prospectiva, tomo I, Lisboa: ME, 
pp. 42 - 43.

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