terça-feira, 6 de março de 2012

CONVITE: TERTÚLIAS DO AGRUPAMENTO

 



«Não há cidadania plena sem uma forte integração dos direitos e deveres sociais na consciência do cidadão.

A cidadania moderna ou é social ou não o é verdadeiramente, tal é a relevância da dimensão social das questões contemporâneas. Como já sublinhámos, o combate sem quartel aos fenómenos conjugados da extrema pobreza, da exclusão e da marginalidade limite, constitui uma prioridade das prioridades na salvação da cidade do século XXI e na afirmação de um conceito de cidadania proativa perante as grandes questões da contemporaneidade.

A cidadania social parte de uma noção apurada de justiça - que toma por premissa fundamental a igualdade de oportunidades numa sociedade democrática - para desembocar num imperativo de justiça social que pressupõe um agir dirigido à defesa dos mais fracos e carenciados pela congregação de meios de descriminação positiva em seu favor.

O reforço do espírito de comunidade assenta num inequívoco dever de participação na livre iniciativa social e na responsabilidade de fazer progredir o associativismo em todas as frentes e direções onde ele pode genuinamente responder a necessidades das populações. Exercer a cidadania é, nessa medida, viver a solidariedade como caminho e alavanca de acumulação de capital social. Cultivar a cidadania confunde-se a final com o desenvolvimento das competências que propiciam a capacidade de viver e aprender em conjunto.

(...)

a Comissão Internacional para a Educação no Século XXI que, sob a égide da UNESCO e sob a presidência de J. Delors, reuniu durante mais de 3 anos, apresentou a sua proposta original de aprendizagens verticais reunida em torno desses quatro pilares fundamentais.

Aprender a Ser surge como uma prioridade intemporal, já presente no Relatório Faure de 1971, que elege a viagem interior de cada um como o processo de adensamento espiritual e vivencial que confere significação final à vida e à construção de felicidade.

Aprender a Conhecer constitui uma aprendizagem plenamente inserida na área do progresso científico e tecnológico. O princípio apela à necessidade urgente de responder à pluralidade de fontes de informação, à diversidade nos conteúdos e sua disponibilização em contexto aberto, a novos meios de conhecer em comunidades de prática, a formas inovadoras de saber numa sociedade em rede.

Aprender a Fazer cria o terreno favorável ao nexo entre conhecimentos e aptidões, aprendizagens e competências, saberes inertes e ativos, conhecimento codificado e tácito, aprendizagens generativas e adaptativas. Aprender a viver fazendo e viver a aprender fazendo encerra uma chave de solução para enfrentar a crescente incerteza do mundo, a natureza mutante do trabalho, e as transformações vertiginosas de competências exigíveis para uma empregabilidade ao longo da vida.

Aprender a Conviver (Viver Juntos) enuncia o desafio extraordinário de redescobrir a relação significante, de elevar os limiares da coesão social, de viabilizar o desenvolvimento comunitário sobre alicerces sustentáveis. Nele se vertem os valores nucleares da vida cívica e da construção identitária em contexto de múltipla participação. Neste pilar se joga o valor da diversidade como constructo pessoal e social e o cultivo da interculturalidade como superação do simplismo binário eu-outro, branco-preto, autóctone-forasteiro. Aprender (con)vivendo com o diferente e Viver (re)aprendendo com a alteridade sustentam-se em processos continuados de hibridação que demandam a conscientização dos limites que impendem sobre casulos pessoais e, em contrapartida, a certeza dos ganhos que decorrem de uma livre e equitativo intercâmbio de memórias culturais entre diferentes.»

in: Roberto Carneiro (2012)
«Viver Aprendendo, Aprender Vivendo»



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